Orar pode ser fácil. Uma oração pode ser um pensamento, uma palavra, um apelo ao céu feito por alguém necessitado, umas poucas linhas ditas espontaneamente ou recitadas de um livro, ou até mesmo um simples lamento. Já compreender o que uma oração faz, depois que sai dos seus lábios, é um pouco mais difícil. Teólogos cristãos debatem há muito tempo como funciona a oração e o que significa dizer que ela “funciona”. E cientistas também.

O psicólogo Kevin L. Ladd, professor da Universidade South Bend de Indiana, examinou recentemente algumas das extensas pesquisas recentes sobre oração, para a Fundação John Templeton. Analisando mais de 40 estudos psicológicos, concluídos nos últimos anos, sobre o impacto da oração nas relações íntimas, Ladd descobriu que há algumas evidências de correlações positivas entre a oração e a melhoria dos relacionamentos. Segundo ele, “pode ser proveitoso encorajar as pessoas a se envolverem com algumas formas de oração como ferramentas de enfrentamento”.

Em um estudo após o outro, porém, Ladd, autor de The Psychology of Prayer: A Scientific Approach [A psicologia da oração: uma abordagem científica], também descobriu que as pesquisas não refletiram com muito cuidado sobre o que é a oração. De certa forma, elas continuaram apontando seus telescópios na direção errada.

Ladd falou à CT sobre os limites das pesquisas sobre oração.

Por que é difícil estudar cientificamente a oração?

Se você não está familiarizado com a prática da oração e com o porquê de as pessoas orarem, é muito fácil vê-la como se alguém estivesse proferindo declarações definitivas ou fazendo algo sobre o qual alega ter controle total. A diferença, no caso da oração, é que você pode estar dizendo coisas que parecem muito ativas e assertivas sobre o que deseja que aconteça no mundo e, ao mesmo tempo, estar abrindo mão do controle. Você está dizendo: “Estou entregando essa preocupação [a Deus]”.

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O núcleo metafísico da oração — aquilo que Deus faz — não é acessível para a ciência. Isso está fora do alcance. Mas o que podemos estudar de forma eficaz, enquanto cientistas, é como as pessoas agem em decorrência da oração. O que as leva à oração? O que elas fazem quando oram? E depois de orar, como elas se comportam?

Está dizendo que, se eu orar pelo meu próximo, você poderia estudar os efeitos dessa oração em mim, mas não no meu próximo?

Sim. Isto vai ao encontro da ideia sobre “pensamentos e orações”, que tem sido tão atacada. Se eu dirijo meus pensamentos e minhas orações ao meu próximo, não consigo ver o que a oração em si está fazendo, mas consigo ver o que eu estou fazendo.

Se estou orando pelo meu próximo, isso muda meu comportamento em relação a ele? Talvez meu coração descanse em Deus, mas minhas mãos estejam em ação. Podemos ver se essas duas coisas andam juntas. Uma pessoa ora pelo próximo. Outra não. Mas qual delas realmente vai e faz alguma coisa por esse próximo? Quem está dedicando a ele seu tempo, seus talentos, seus recursos? Sim, podemos estudar isso, e descobrimos que de fato tem um efeito.

Nem todos oram da mesma maneira. Oração não significa a mesma coisa para todo mundo. Então, como os pesquisadores definem a oração?

A abordagem padrão é deixar isso em aberto para o participante e dizer: “Faça o que você costuma fazer, quando diz que está orando, e então conversaremos sobre isso”. Você deixa isso totalmente em aberto.

Há muita variação individual. Depois de ter conversado com milhares de pessoas em comunidades religiosas, em igrejas, pessoas que se dedicam à oração, descobri que muitas delas — quase metade — relatam que nunca ninguém lhes perguntou nada sobre oração, o que fazem [quando oram] e o porquê.

Esta linha de pesquisa abre espaço para muitas conversas sobre a natureza da espiritualidade. Um dos maiores medos das pessoas é não estar orando direito.

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Como você começou a estudar oração?

Ela sempre fez parte da minha vida como cristão. Meu pai é pastor na Igreja Metodista Unida. Fui para o seminário e, como parte do meu treinamento lá, passei um tempo trabalhando em um serviço de testes educacionais, o que é uma espécie de caminho atípico no seminário. Meus amigos estavam estudando grego e hebraico e eu ficava falando sobre estatísticas e projetos de pesquisa.

Meu primeiro estudo, durante meu trabalho de doutorado, foi sobre um grupo de sobreviventes de câncer de mama, e era voltado para os exercícios e as coisas que elas faziam para cuidar de si mesmas, depois de terem sobrevivido ao câncer, e muitas falaram espontaneamente sobre como a oração era importante para elas. Então pensamos, bem, deveríamos olhar para isso. Na época — há 30 anos — isso era uma novidade.

Há quanto tempo as pessoas estudam a oração cientificamente? Quando esse projeto começou?

Não sei se você se lembra da história de Gideão e da porção de lã, como ele a colocou [na eira] e disse a Deus: “Molhe-a!” e “Deixe seca a terra ao redor!” Isso tem as características de um estudo.

Se procurarmos uma abordagem científica mais moderna, chegamos ao século 19 e a Francis Galton. Ele estava mergulhado no pensamento da Grã-Bretanha vitoriana: se a oração está produzindo algum efeito, então, você ora ainda mais, e a oração deverá produzir mais efeitos. Bem, e quem recebe mais orações? A Igreja Anglicana ora pela saúde do monarca o tempo todo. Se é assim, o rei deveria estar com ótima saúde! Acontece que, na verdade, não funciona dessa maneira, mas essa ideia lançou o debate sobre o medidor de oração, que já dura há tempos.

Do jeito que eles pensavam naquela época, as pessoas estavam orando, a oração brotava de seus lábios ou de seus corações e, então, algo metafísico acontecia e influenciava o monarca. As pessoas ficavam perplexas com essa parte intermediária, no entanto. Com a questão metafísica.

Com o tempo, essa abordagem caiu em desuso. Acho que isso aconteceu porque as pessoas estavam tentando medir uma coisa metafísica, e não conseguiam. E acabavam dando de frente com um muro. Há um componente faltando.

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Parte da dificuldade também é um problema de medição? Parece que a oração não pode ser medida da mesma forma que a ciência trata a medição.

Sim. É interessante, se você pensar bem, que uma das coisas que Galton presumia era que quanto mais oração, melhor era. Mas se você mergulhar em qualquer tradição religiosa, e se aprofundar no [seu] texto, nunca há garantias de que mais é melhor. Não é como uma dose de aspirina. A Bíblia diz muitas coisas sobre a oração excessiva não ter efeito, seja quando os profetas de Baal tentam invocar fogo em uma competição com Elias, seja quando Jonas ora, porque quer ver Nínive destruída e Deus não o faz. Mais oração não necessariamente causa maiores efeitos.

Há também muitas pessoas, em todas as congregações, cuja preocupação é que devemos ter cuidado por não estar orando direito. Se dissermos que “cientificamente, a oração faz tais e tais coisas” e depois não funcionar, estamos dizendo que a pessoa não orou direito. Esse é o ponto fraco insidioso de muitas pesquisas científicas sobre a oração. Culpamos a vítima.

Você volta aos textos religiosos e vê que não é isso que dizem sobre a oração. Eles articulam com muito mais nuances e complexidades o que torna uma oração boa, e isso pode ou não estar conectado de forma direta a algum efeito que podemos ver.

Estudar a oração tem o efeito colateral de ajudar as pessoas a verem a oração de maneira diferente?

Espero que parte do que a pesquisa mostre seja que não existe uma única maneira de as pessoas orarem. Não há uma única maneira de orar em termos de linguagem. Não há uma única maneira de como usar seu corpo [quando ora]. Não há um único horário em que se deve orar. Há uma infinidade de maneiras de orar. Espero que isso seja algo que as pessoas entendam.

E se a sua oração não passa de um pensamento fugaz que se dirige a Deus? Ela conta? Bem, acho que alguns teólogos diriam que sim.

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