Este é um dos versículos mais citados da Bíblia: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus”.

Ecoando as palavras de Jesus, para que deixemos as preocupações do amanhã para amanhã, Filipenses 4.6 nos aponta um antídoto para a ansiedade: a oração.

Uma situação momentânea nos causa ansiedade. Não conseguimos enxergar o caminho a seguir. Inclinamos a cabeça para orar, pedindo ajuda. O que poderia ser mais simples do que isso?

Nossos pedidos, porém, revelam muito sobre a compreensão que temos de nós mesmos, da ansiedade em geral e de Deus. Nossas orações em momentos de ansiedade podem, na verdade, levar a uma ansiedade ainda maior, a menos que prestemos muita atenção aos tipos de petições que Paulo tem em mente, quando faz essa exortação.

Ficamos, de fato, ansiosos sobre o que o futuro nos reserva, imaginando o que fazer quando surgem dificuldades em nossas amizades, finanças ou famílias. Se pudéssemos saber só um pouco mais sobre o que vem a seguir, certamente poderíamos acalmar nossas ansiedades e assumir uma postura proativa. E certamente poderíamos relaxar e confiar em Deus!

Levamos nossos pedidos ao conhecimento de Deus: “Senhor, por favor, mostra-me o que fazer a seguir. Deixa claro o amanhã.”

E pensamos que, se tão somente tivéssemos o benefício de receber uma direção divina clara, certamente a seguiríamos. Mas a história de Moisés na sarça ardente nos adverte do contrário. Moisés recebe instruções da boca do próprio Deus para ir ao Egito e libertar seu povo. O resultado? Ansiedade ao extremo. Falta de disposição de seguir as instruções recebidas. Uma crise de identidade. As palavras claras do Senhor não trouxeram paz nem confiança a Moisés.

Uma coisa é dizer a Deus que estamos ansiosos sobre o futuro. Outra coisa é pedir a ele que nos revele o futuro.

Pensamos que, se Deus nos mostrasse um sinal seguro, teríamos paz. Mas a história de Gideão nos adverte do contrário. Seus pedidos para que Deus provasse que faria algo que já prometera fazer desonram aquele a quem ele roga. Ao colocar uma porção de lã na eira, ele pôs o Senhor seu Deus à prova. Os sinais milagrosos realizados a seu pedido não geraram determinação nem ação em Gideão.

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Achamos que, se soubéssemos o que o amanhã nos reserva, usaríamos essa informação com sabedoria para fazer boas escolhas. Mas a história da negação de Pedro nos adverte do contrário. Jesus diz a ele, explicitamente, como a ansiedade o levará a pecar em seu futuro imediato. E Pedro não altera seu curso. O conhecimento sobre o futuro não serve para corrigi-lo, mas sim para condená-lo. A presciência não gerou arrependimento nem humildade em Pedro.

Uma coisa é dizer a Deus que estamos ansiosos sobre o futuro. Outra coisa é pedir a ele que nos revele o futuro. A primeira hipótese é uma confissão; a segunda, uma petição. Tanto a confissão quanto a petição são facetas da oração; porém, enquanto nossas confissões de ansiedade ou de pecado são sempre piedosas, nem todas as nossas ansiosas petições o são.

Quanto à questão de pedir a Deus que nos dê conhecimento do futuro, devemos ser cautelosos. Esse conhecimento pertence às coisas encobertas de Deus (Deuteronômio 29.29). Aqueles que procuram usar a oração como uma bola de cristal se esquecem de que somos chamados a andar por fé, e não pelo que vemos (2Coríntios 5.7), e se esquecem da bênção de Cristo: “Felizes os que não viram e creram” (João 20.29).

Deus revelou uma direção clara e específica a seus servos em várias ocasiões? Sim. A Bíblia preserva esses relatos para nós. Mas não os oferece como algo normativo. E, como também vimos, também não oferece essas revelações como algo que necessariamente traz a paz que esperaríamos.

Lembre-se, Hebreus 11 não diz que Abel, Enoque, Abraão, Isaque, Jacó e o restante de seu grande exército foram em frente com perfeita clareza e confiança; eles andaram pela fé. Sem dúvida, suas ansiedades eram muitas e sua linha de visão estava obscurecida. Mas o Deus deles era fiel. O Deus deles é fiel.

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Portanto, que petições os ansiosos devem apresentar a Deus? Que ele aumente nossa fé (Lucas 17.5), que nos ensine a confiar (Salmos 71), que nos dê sabedoria (Tiago 1.5), que nos ajude a levar cativos nossos pensamentos ansiosos (2Coríntios 10.5), que ele nos sustente hoje com o pão diário de sua presença (Mateus 6.11), que ele nos lembre de sua fidelidade constante para conosco e com todas as gerações (Salmos 119.90).

Esses pedidos são respondidos com “a paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Filipenses 4.7). Não se trata da paz precária de saber o que o futuro nos reserva, mas sim da paz perfeita de descansar naquele que sabe.

Tradução: Mariana Albuquerque

Edição: Marisa Lopes

Jen Wilkin é esposa, mãe e professora de Bíblia. É a autora de Women of the Word e None Like Him. Seu perfil no Twitter é @jenniferwilkin.

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