Enquanto grupos e denominações cristãs debatem sobre a resposta adequada à má conduta sexual do clero, a maioria dos pastores acredita que aqueles que cometem tais crimes devem se retirar do ministério público permanentemente.

No recente encontro anual da Convenção Batista do Sul, o tema sobre abuso e violência de caráter sexual cometidos por pastores dominou grande parte da discussão e das tratativas, incluindo a aprovação de uma resolução que diz que “qualquer pessoa que tenha cometido abuso sexual fica permanentemente desqualificada para exercer o cargo de pastor”.

Um estudo da Lifeway Research de Nashville revelou que uma maioria significativa de pastores protestantes nos Estados Unidos compartilha dessa opinião, quer a vítima seja criança ou adulto.

“A maioria dos pastores atuais acredita que a função pastoral é incompatível com a prática de abuso ou violência de caráter sexual contra outra pessoa”, disse Scott McConnell, diretor executivo da Lifeway Research.

“Isso não significa que eles acreditem que esses comportamentos estejam além do perdão de Deus, embora uma grande maioria acredite que o abuso sexual seja uma desqualificação permanente para o exercício da liderança ministerial.”

Abuso sexual contra crianças

Mais de 4 a cada 5 pastores protestantes (83%) dizem que se um pastor cometer abuso sexual contra crianças, essa pessoa deve se retirar permanentemente do ministério público. Para 2%, o tempo de afastamento deve ser de pelo menos 10 anos, enquanto 3% defendem um afastamento de pelo menos cinco anos e outros 3%, de pelo menos dois anos.

Poucos consideram apropriado um período de tempo mais curto: 1% defende pelo menos 1 ano e menos de 1%, de seis ou três meses. Outros 7% dizem que não têm certeza de quanto tempo esse afastamento deve ser.

Embora a maioria de todos os grupos demográficos de pastores apoie a saída permanente do ministério público por abuso sexual contra crianças, alguns grupos são menos favoráveis a isso do que outros. Pastores pentecostais (60%), pastores afro-americanos (67%), pastores sem diploma universitário (69%) e pastores com 65 anos ou mais (76%) estão entre os menos favoráveis a apoiar uma remoção permanente.

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A Comissão de Penas dos Estados Unidos informou que 98,8% dos agressores por abuso sexual foram condenados à prisão, com uma sentença em média de quase 16 anos.

“O prazo de cinco anos ou menos, que 7% dos pastores sugerem ser apropriado, não cobre sequer a duração da típica sentença de prisão para criminosos condenados por abuso sexual”, disse McConnell. “Em contraste, um número de pastores 10 vezes maior do que esse não hesita em dizer que a desqualificação para o ministério deve ser permanente para um pastor que cometer abuso sexual contra crianças”.

Abuso sexual contra adultos

Uma maioria considerável de pastores protestantes (74%) também apoia o afastamento permanente do ministério público para qualquer pastor que cometer violência e abuso de caráter sexual contra qualquer membro adulto ou funcionários da congregação. Um a cada 20 diz que o tempo de afastamento deve ser de pelo menos 10 anos (5%), de pelo menos cinco anos (5%) e de pelo menos dois anos (5%).

Assim novamente, poucos pastores defendem períodos mais curtos, com 2% dizendo que deve ser pelo menos um ano; 1%, pelo menos seis meses e menos de 1%, pelo menos três meses. Menos de 1% diz que o pastor não precisa se afastar. Quase 1 a cada 10 (9%) afirma não ter certeza.

Os pastores pentecostais (44%) são o único grupo demográfico em que a maioria não apoia o afastamento permanente do ministério público para pastores que cometem abuso sexual com adultos que estejam sob seus cuidados e supervisão na igreja. Dados de outros grupos demográficos, entre os quais estão pastores afro-americanos (58%), pastores sem diploma universitário (63%) e pastores com 65 anos ou mais (69%), também apoiam menos o afastamento permanente do pastor.

“Quando alguém abusa sexualmente de um adulto, isso tanto é um pecado violento quanto um crime. É o oposto do amor, do cuidado e do respeito pelo outro que a Bíblia ensina”, disse McConnell. “O papel do pastor segue padrões incrivelmente elevados na Bíblia, incluindo o de que o bispo (pastor) daqueles [que são] da igreja seja irrepreensível e respeitável. Dezessete por cento dos pastores acredita que alguém possa se redimir sobre este assunto, se lhe for dado tempo suficiente".

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Um estudo de 2019 da Lifeway Research descobriu que muitos fiéis protestantes acreditam que existam outros casos não revelados de pastores protestantes que abusaram sexualmente de crianças ou adolescentes (32%) ou de adultos (29%). Nesse mesmo estudo, 3 a cada 4 fiéis que frequentam a igreja (75%) dizem desejar uma investigação minuciosa dos fatos quando alguém acusa um pastor da própria igreja de má conduta sexual. Poucos (14%) afirmam que sua reação seria de querer que o ministro fosse protegido [da acusação].

Em comparação com sua perspectiva sobre o abuso, os pastores estão bem mais divididos sobre a resposta adequada ao adultério, de acordo com um estudo adicional da Lifeway Research, também de 2019. Embora uma clara maioria diga que os pastores que cometem abuso sexual contra crianças ou contra adultos devam se afastar permanentemente do ministério, apenas 27% acredita que a mesma consequência deveria ser aplicada a um pastor que cometesse adultério. Muitos (31%) não têm certeza.

“Embora o adultério implique uma relação consensual, não é uma distinção assim tão simples para aqueles que servem no papel de pastor, como é indicado pelos 31% que não tinham certeza na pesquisa anterior”, disse McConnell. “Para um pastor que ocupa uma posição de confiança e autoridade espiritual sobre aqueles em sua congregação, ter um relacionamento adúltero com um deles, no qual existe um desequilíbrio de poder, ainda constituiria abuso sexual.”

Para mais informações, veja o relatório completo da pesquisa.

Traduzido por: Tiago Hirayama

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