Há um velho ditado sobre o trabalho: “Encontre algo que ame fazer e você nunca trabalhará um dia sequer em sua vida”.

A ideia é bacana, embora seja uma orientação difícil de cumprir. Há empregos mais difíceis de serem amados do que outros, e mesmo o trabalho com mais propósito e significado pode nos esgotar ou frustrar. Nossa relação com o trabalho pode ser complicada; e até os mais diligentes entre nós sucumbem e abrem mão de suas fantasias de vez em quando.

E as demandas da vida muitas vezes significam que não podemos nos dedicar a encontrar um trabalho que gostamos de fazer. Então, simplesmente temos de fazer o trabalho necessário. As pilhas de contas não se importam com nossa satisfação no trabalho ou com nossos talentos naturais. Aquele mofo estranho que aparece no chuveiro não tira férias. Uma boa porção entre nós está trabalhando em coisas que não gosta de fazer, e é bem possível que continuará trabalhando nisso até que o Senhor volte.

A maioria de nós sonha com anos de férias intermináveis na Nova Jerusalém. E em meio ao debate sem fim sobre se as melhores férias são na montanha ou na praia, a descrição de novos céus e nova terra onde não existe mar já ameaçou o conceito de felicidade eterna de mais de um santo. Independentemente da paisagem, porém, poucos são os que pensam na vida futura como um lugar onde se trabalha.

Para muitos, o céu é a suprema fantasia de parar de trabalhar. Afinal de contas, é o Sabbath eterno, onde cessaremos nosso trabalho, certo? Bem, é e não é.

Apocalipse 14.13 de fato promete que os santos “descansar[ão] dos seus trabalhos” (cf. a versão ARC). Mas, em Apocalipse, a palavra trabalhos significa “labutas”, como o árduo esforço da perseguição que os santos enfrentarão nesta vida.

Em Isaías 65, Deus fala sobre o trabalho que haverá na nova criação:

Construirão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão do seu fruto. [...] os meus escolhidos esbanjarão o fruto do seu trabalho. Não labutarão inutilmente [...] (v. 21-23)

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Essa é a poesia de uma produtividade que não é atrapalhada pelo pecado. Em Sião, descansaremos do pecado, da tristeza, da tentação e da perseguição. Mas trabalharemos com alegria e júbilo, exatamente como fomos criados para fazer. E por fim cumpriremos nossos chamados vocacionais, mas livres da frustração ou do trabalho árduo, da labuta que nos fadiga. Não sabemos qual será especificamente o nosso trabalho, mas sabemos que será frutífero, como deveria ter sido o tempo todo.

Desde a rebelião no Éden, nossa relação com o trabalho tem sido difícil. Não temos lembrança de como o trabalho deveria ser: sempre gratificante, sempre uma expressão de amor pelos outros, sempre algo que traz glória a Deus. Nunca uma fonte de frustração. Nunca algo sem propósito ou desumanizante. Não mais como peças em uma engrenagem, apenas como seres humanos que refletem a imagem de Deus com o trabalho de suas mãos.

Talvez tenhamos uma remota ideia de como o trabalho deveria ser. Imagine o dia de trabalho mais satisfatório que já teve. Para mim, é como a satisfação de todo o trabalho de cozinhar e limpar a casa que culmina na reunião da família em torno da mesa, ou como o bom cansaço de ter ensinado com afinco uma passagem difícil das Escrituras. Dias como esses são um eco do Éden e uma antecipação da Nova Jerusalém.

Fomos criados para o trabalho tão certamente quanto fomos criados para o descanso. Por causa do pecado, fizemos de ambos [do trabalho e do descanso] ídolos, moldando-os para que sirvam à nossa autopromoção e à nossa preguiça. Nosso trabalho não nos satisfaz plenamente, e nosso descanso não restaura totalmente nossas forças.

Haverá um dia, porém, em que voltaremos a trabalhar como fomos criados para trabalhar. E em que descansaremos como fomos criados para descansar. Nosso trabalho não será frustrante, e nosso descanso não será entediante.

Por enquanto, ainda podemos e devemos fazer nosso trabalho de todo o coração, como se estivéssemos trabalhando para o Senhor (Colossenses 3.23). Quando enxergamos nosso trabalho como servir a Cristo, nosso Senhor, até mesmo as tarefas mais humildes são transformadas, e passam de trabalho a adoração. Nossos esforços se tornam ofertas, como expressões de nossos dons ou como atos de simples obediência.

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Já limpei muitos chuveiros como se o fizesse para o Senhor, e provavelmente limparei muitos outros, antes de caminhar pela rua de ouro puro da Nova Jerusalém. Não haverá contas a pagar na cidade celestial; também não haverá mofo. Mas haverá bom trabalho a fazer. Que nosso jubiloso trabalho aqui e agora sirva como as primícias de nosso trabalho frutífero que está por vir.

Jen Wilkin é esposa, mãe e professora de Bíblia. Ela é autora de Women of the Word e None Like Him [Mulheres da Palavra e Ninguém como ele]. Encontre-a no twitter como @jenniferwilkin.

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