Um número substancial de cristãos praticantes acredita que morar junto antes do casamento é uma boa ideia pelo menos 41%, segundo uma estimativa. Embora muito mais pessoas não religiosas acreditem na mesma coisa (88%), 41% não é um grupo pequeno, e é provável que esteja crescendo com o passar do tempo.

Um relatório recente do Institute for Family Studies [Instituto para Estudos sobre Família] fez uma pesquisa com pessoas que se casaram pela primeira vez entre os anos de 2010 a 2019. Minha colega, Galena Rhoades, e eu chegamos a conclusões semelhantes às de estudos anteriores: padrões de coabitação antes do casamento continuam associados a maiores chances de divórcio.

O que muitas vezes as pessoas não percebem é a inércia que vem, quando passam a morar juntos. Em essência, os casais que coabitam antes de firmar seu compromisso estão dificultando a separação. Muitos deles ficam presos em um relacionamento do qual poderiam ter saído.

Consistente com a nossa teoria da inércia é a nossa descoberta de que os casais que passaram a morar juntos antes do noivado tinham 48% mais chances de terminar o casamento do que aqueles que passaram a coabitar apenas depois de casados ou, pelo menos, depois de ficarem noivos. Também demonstramos que morar juntos para “testar o relacionamento” ou por conveniência financeira está associado a maiores riscos de divórcio.

À luz dessa pesquisa, os cristãos que pretendem se casar podem estar se perguntando o que podem fazer para melhorar suas chances de permanecerem casados. Conselhos sobre relacionamento não custam nada e são fáceis de encontrar. Mas esta pesquisa mais recente sugere que certas medidas e precauções aumentarão a probabilidade de os casais permanecerem juntos “até que a morte os separe”.

Primeiro, não acredite no lema de que morar junto é bom para o relacionamento.

Embora os cristãos conservadores tenham uma probabilidade menor do que a maioria de coabitar antes do casamento, muitos o fazem. Levando em conta que a maioria dos homens e das mulheres acredita que morar junto pode aumentar as chances de sucesso no casamento, a prática é altamente tentadora. Mas há pouquíssima evidência de que morar junto antes de casar melhore as chances de um casamento duradouro. Em contrapartida, há muitas evidências de que fazer isso dificulta esse objetivo.

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Desafiando as tendências culturais, os casais devem considerar o caminho tradicional: noivar primeiro, depois casar e só depois morar juntos. Essas etapas ajudam a garantir clareza sobre o compromisso que você está assumindo, à medida que avança para uma vida a dois. Elas também fornecem uma linha de decisão mais clara que separa sua vida em antes e depois do casamento.

Desacelere. O tempo e a ordem dos acontecimentos podem colocar você no caminho certo do relacionamento.

Há benefícios em ir devagar à medida que um relacionamento se desenvolve. Mas não tão devagar assim! Alguns casais esperam anos e anos para se casarem, [e se casam] muito depois de já saberem como querem que seja o futuro. Essa abordagem pode trazer seus próprios problemas — por exemplo, o fato de a pessoa se casar sem sentir a alegria e a energia de um compromisso compartilhado.

Mas por que é importante não apressar as coisas? Duas pessoas precisam de tempo para aprenderem mais uma sobre a outra, esclarecerem expectativas e crenças e fazerem com que seu relacionamento evolua para uma comunhão de família e fé. Em muitos relacionamentos, ambos os parceiros acreditam que estão de acordo sobre questões do casamento, quando, na verdade, não estão. Leva tempo para se ter clareza sobre as coisas. Alguns cristãos evoluem rápido demais rumo ao casamento porque estão se abstendo de sexo e querem poder fazer tudo. No entanto, ao fazerem isso, eles deixam de notar muito daquilo que precisam ver.

Quão devagar se deve ir? Depende. Costumo dizer às pessoas que elas devem conviver com a outra pessoa por, pelo menos, quatro estações. Para a maioria, porém, um ano é o tempo mais curto. Da mesma forma, um longo noivado pode ter seu valor. Ele dá ao casal a chance de praticar um alto nível de compromisso e “experimentar” a devoção pública de um ao outro, tendo como objetivo o casamento. E isso, muitas vezes, traz desafios que podem fazer o relacionamento dar certo ou terminar.

Decida; não dê automaticamente esse passo sem pensar.

Um compromisso envolve fazer a escolha de desistir de outras escolhas. É uma decisão — a qual deve se basear em boas informações. Mas, surpreendentemente, poucos relacionamentos seguem essa fórmula básica. Um importante estudo sobre coabitação mostrou que as pessoas tendem a passar automaticamente a morar juntas, sem discutir o assunto e sem tomar nenhuma decisão que reflita um compromisso.

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Vemos uma falta de intencionalidade semelhante na forma como homens e mulheres se comunicam. Vivemos na era da ambiguidade. Os parceiros geralmente evitam ser sinceros um com o outro, talvez pela crença ingênua de que, se não expressarem seus desejos, se machucarão menos se o relacionamento não der certo. Mas isso, é claro, raramente funciona. Embora não seja uma boa ideia ter esse tipo de “conversa” no primeiro ou no segundo encontro, não evite discussões mais profundas, quando as coisas mudarem e ficarem sérias.

A franqueza é especialmente importante porque, no namoro, os parceiros em geral têm níveis muito diferentes de compromisso. E você não vai querer descobrir isso só depois de ter dito o “sim”. Ao conversar sobre as coisas com um cônjuge em potencial, você deixa menos espaço para mal-entendidos, e é mais provável que traga para o relacionamento intenções mútuas no sentido de uma promessa vitalícia.

Essa abordagem de “tomar a decisão” não garante o sucesso de um relacionamento, assim como passar automaticamente sem pensar de uma coisa para outra não significa que o relacionamento esteja condenado. Mas, no geral, mais casamentos durariam se os parceiros tivessem clareza sobre certos sinais muito antes de fazerem as transições que alteram suas vidas.

Não é preciso morar junto para testar o relacionamento.

Se você quiser descobrir se a pessoa com quem está namorando é um bom partido, pode saber isso sem ter que morar junto. Façam um curso sobre relacionamento. Conversem sobre como seria um futuro juntos. Testem a sua compatibilidade com um tempo de namoro mais prolongado. Reserve tempo para avaliar seu parceiro ou sua parceira em diferentes contextos sociais. Preste atenção em como você se sente ao lado dessa pessoa e em como ela trata os outros. E pergunte a amigos de confiança, familiares e pastores o que eles acham.

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Se você atualmente mora com seu parceiro ou sua parceira, dedique seu tempo ao árduo trabalho de descobrir para onde está caminhando seu relacionamento. Analise o relacionamento e seus desafios. Converse aberta e claramente sobre as expectativas. Não evite fazer perguntas difíceis. A ambiguidade não ajuda ninguém. Peça a opinião de outras pessoas em quem você confia, como pastores, líderes leigos e amigos sábios. Procure obter informações, apoio e sabedoria onde quer que você possa encontrá-los. E, por fim, use todos os recursos disponíveis.

Qualquer casal que estiver em um compromisso sério pode explorar os muitos livros, recursos online, workshops e serviços de terapia que foram criados para apoiá-los. Aqui estão algumas sugestões:

Livros:

Considere a leitura das seguintes obras: The five love languages: the secret to love that lasts [publicado no Brasil sob o título As cinco linguagens do amor], de Gary Chapman; Reconnected: moving from roommates to soulmates in your marriage, de Greg e Erin Smalley; ou A lasting promise: the christian guide to fighting for your marriage, um livro escrito por mim e meu colegas — Daniel Trathen, Savanna McCain, Milt Bryan —, bem como outros livros sobre relacionamentos e preparação para o casamento.

Nota da edição em português: No Brasil, entre os livros cristãos sobre casamento, temos: O significado do casamento, de Timothy Keller; As quatro estações do casamento, de Gary Chapman; Você e eu para sempre: O casamento à luz da eternidade, de Francis e Lisa Chan; Perdão total no casamento, de Maurício Zágari.

Aconselhamento ou curso para noivos:

As evidências sugerem que aconselhamento e curso para noivos podem ajudar a prevenir problemas conjugais; então, procure esses recursos para noivos em sua região. Sua igreja local também pode ser um grande recurso. Os pastores e líderes leigos em sua comunidade de fé podem lhe oferecer orientação valiosa.

Para casais que enfrentam problemas, procurem ajuda antes que seja tarde. Muitas pessoas esperam tempo demais antes de procurar ajuda profissional. E se você estiver em um relacionamento sobre o qual não tem certeza, consulte um conselheiro que possa ajudar você a refletir sobre o assunto.

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Workshops para casais:

Embora ainda sejam raras, mais e mais igrejas têm oferecido workshops sobre casamento e relacionamento (assim como várias agências comunitárias). Esses workshops educativos podem ajudar os casais a fortalecer sua conexão e seu compromisso. Você também pode encontrar programas online rigorosamente testados para casais. Eles não partem de uma perspectiva cristã, mas mesmo assim são programas sólidos.

OurRelationship é um programa online educativo sobre relacionamentos, baseado em uma abordagem de terapia de casais popular e eficaz. Está disponível em ourrelationship . com.

O ePREP é um programa online alicerçado em décadas de trabalho no Programa de Prevenção e Educação Relacional. Está disponível em lovetakeslearning . com.

Procure outros recursos online também.

A equipe da PREP Inc. — da qual sou coproprietário, só para deixar claro — produz uma variedade de recursos para ajudar as pessoas a terem sucesso em seus relacionamentos mais importantes, entre eles um vídeo de quatro minutos, baseado em nossa pesquisa, que está disponível no YouTube: “Relationship DUI Tem certeza de que está apaixonado ?” Esse vídeo explica os riscos de ir muito rápido e se comprometer com muita pressa. É um vídeo fantástico para compartilhar com amigos.

The Institute for Family Studies também oferece recursos relevantes. Alguns anos atrás, minha colega Galena Rhoades e eu escrevemos um relatório público intitulado Before “I Do” [Antes do “sim”] sobre como as experiências antes do casamento estão associadas à qualidade do relacionamento após o casamento.

Comunidade religiosa:

Fala-se muito hoje em dia sobre solidão e isolamento. É um problema sério. Pesquisas sugerem que os casais também têm cada vez menos probabilidade de estarem envolvidos em uma comunidade com outras pessoas e são mais propensos a ficarem “sozinhos a dois”. Esse não é o melhor caminho para o seu casamento.

Mas há boas notícias. Se você não estiver envolvido em uma comunidade religiosa, pode vir a estar. Uma das melhores maneiras de proteger seu casamento — e seu próprio bem-estar — é se conectando com outras pessoas que possam torcer por você e por seu casamento, orar com você e estar ao seu lado, enquanto você caminha por essa estrada. Você também pode apoiar e encorajar outras pessoas que estão na mesma situação.

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Se vocês são um casal que está “sozinho a dois”, encontrem um lugar onde você e seu cônjuge (ou futuro cônjuge) possam se desenvolver em comunidade e começar a buscar uma vida mais plena e significativa. Esta é uma das muitas maneiras pelas quais vocês dois podem decidir por um futuro juntos, e não apenas dar automaticamente esse passo sem pensar.

Scott Stanley é professor pesquisador do departamento de psicologia da Universidade de Denver e membro sênior do National Marriage Project, da Universidade da Virgínia e do Institute for Family Studies.

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