A 28ª reunião anual da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas — popularmente chamada COP28 — terminou recentemente em Dubai. Participei da conferência como representante da organização Christian Climate Observers Program [Programa de Cristãos Observadores do Clima, cuja sigla em inglês é CCOP], que trouxe 30 líderes emergentes de todo o mundo para darem seu testemunho nos eventos da conferência. A COP28 inclui negociações intensas, com representantes de 200 países, sobre ações climáticas, além de algo semelhante a uma feira mundial, com pavilhões de quase todos os países, bem como muitos grupos de interesse diferentes.

Um grupo que foi visivelmente sub-representado na conferência é a igreja dos Estados Unidos. A conferência teve um pavilhão religioso pela primeira vez, e nele vi apresentações feitas por muçulmanos, judeus e muitos cristãos de outras partes do mundo. Mas, com exceção dos americanos envolvidos através da organização CCOP, não vi mais ninguém representando os cristãos dos EUA.

Talvez isso não seja surpreendente. Os cristãos são menos propensos do que outras pessoas em nosso país a pensar que as mudanças climáticas são um problema sério, e os evangélicos, em especial, têm ainda menos preocupação com o meio ambiente do que qualquer outro grupo religioso americano. Com o seu pessoal cético em relação ao clima, eles tendem a argumentar que existem “problemas maiores no mundo” e que, de qualquer forma, “Deus está no controle do clima”.

Esses argumentos para essa falta de ação podem soar realistas, práticos e até mesmo bíblicos. Mas ignoram temas bíblicos mais profundos, como amor, justiça e responsabilidade pela criação que Deus compartilhou com a humanidade, aqui deste lado da eternidade — e também do outro lado, que virá depois.

É verdade que muitas pessoas têm problemas mais imediatos do que as mudanças climáticas; porém, quando se compreende a escala do risco que corremos nesse aspecto, é difícil imaginar uma ameaça que seja mais séria do que essa — pois é uma ameaça ao estilo de vida e aos meios de subsistência de tantas pessoas, e até mesmo à própria vida.

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Não é à toa que o Departamento de Defesa reconhece as mudanças climáticas como um multiplicador de ameaças, algo que amplifica o potencial perigo para a segurança nacional dos EUA devido a guerras, imigração e catástrofes naturais. E quando ouvimos relatos diretos de pessoas que estão sendo afetadas hoje por mudanças climáticas, a gravidade do problema é palpável.

Participei de uma sessão na COP28 em que foi dada a palavra ao representante de Tuvalu. Ele falou com paixão sobre sua pequena nação insular no Pacífico Sul, onde o local mais elevado fica a apenas dois metros acima do nível do mar. Famílias já tiveram de se deslocar para longe da costa, devido ao aumento do nível do mar, e agora as tempestades inundam os seus campos e poços com água salgada, tornando-os inutilizáveis.

O representante de Tuvalu ficou consternado com a falta de progressos significativos na COP28 para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. “Como posso voltar para casa, depois desta reunião, e dizer ao meu povo que o futuro do nosso país não está garantido e que o mundo parece não se importar?”, foram suas palavras, no apelo que ele fez à assembleia.

O grupo em que estamos, da organização CCOP, reuniu-se com o Rev. James Bhagwan, secretário-geral da Conferência de Igrejas do Pacífico. Ele também deu seu testemunho sobre a catástrofe iminente para os 15 milhões de habitantes destas nações insulares, 90 por cento dos quais são cristãos. Eles se perguntam por que os irmãos cristãos na América [e em outros países também] parecem tão pouco dispostos a ouvir os seus clamores, relatou Bhagwan. “Não somos seus próximos?” ele perguntou, fazendo alusão à parábola do Bom Samaritano (Lucas 10.25-37). “Nossas vidas valem menos do que o conforto de vocês?”

Se apelos à fé ou à justiça não nos motivam, acrescentou Bhagwan, talvez devêssemos considerar um ângulo mais pragmático: “Não estou lutando apenas pelos habitantes das ilhas do Pacífico; estou lutando por vocês também. Isso vai acontecer conosco primeiro, mas, no futuro, acontecerá com vocês, e então será tarde demais para fazer algo a respeito.”

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Uma resposta comum a estes apelos é este segundo argumento, apresentado por pessoas que não acham que as mudanças climáticas sejam uma preocupação séria: Deus está no controle, dizem elas, por isso, realmente não importa o que fazemos. Perguntei a Bhagwan como ele responderia a essa visão. “Essas pessoas precisam de uma dose de teologia do arco-íris”, ele respondeu com uma risadinha. “Nossas ilhas estão sendo destruídas pela água; porém, depois do dilúvio, no tempo de Noé, Deus colocou um arco-íris no céu e prometeu nunca mais destruir a Terra com água. Portanto, [o que está acontecendo] não deve ser obra de Deus desta vez. Somos nós!”

Eu, pessoalmente, apontaria para a igreja americana textos que vão além de Gênesis, até o Apocalipse: Precisamos de uma escatologia melhor. Muitos cristãos acreditam que, porque este mundo é o nosso lar temporário, não importa o que façamos com ele. Podemos extrair e exaurir os recursos da Terra, e tratá-la como um aterro sanitário, pensam eles (ou agem e votam como se assim pensassem), porque ela será substituída pelo céu por toda a eternidade.

Acredito que haja uma maneira melhor e mais bíblica de olhar para a intenção de Deus para o nosso mundo — para o que significa para ele estar no controle e qual é o papel que ele quer que desempenhemos no seu plano de redenção. A Terra, como a conhecemos, não é o nosso lar definitivo, mas também não está totalmente desconectada do nosso lar definitivo. O teólogo N. T. Wright nos lembra que o Novo Testamento não diz que a Terra será completamente destruída e que todos nós seremos levados para algum céu imaterial. Somos o povo da ressurreição. E a ressurreição não é uma segunda criação ex nihilo; é uma transformação do que existe no presente.

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O corpo terreno de Jesus não permaneceu no túmulo nem simplesmente desapareceu. Foi transformado em um corpo ressurreto, que não era limitado pelas mesmas leis naturais. Mas, o crucial é que o seu corpo ressurreto ainda trazia as cicatrizes causadas pela forma como o seu corpo terreno foi tratado (João 20.24-29).

Os céus e a Terra serão transformados e renovados, na consumação do reino de Deus (Apocalipse 21.1). Esta criação redimida durará por toda a eternidade, e não mais será sujeita à deterioração, como é o nosso universo atual. Mas será que ela também trará as cicatrizes pela forma como a tratamos? Nosso comportamento atual estabelece parâmetros para o que a Terra restaurada pode vir a ser? Nesta época do Advento, também poderíamos nos perguntar se Deus não está esperando para inaugurar plenamente o reino (2Pedro 3.9), em parte porque ainda não aprendemos a cuidar de sua criação.

Os nossos problemas climáticos são complexos, e não estou propondo soluções simples. Mas existe um caminho para o cuidado: comece a aprender sobre isso e a orar por aqueles que estão na linha da frente dos impactos climáticos (e, talvez, junte-se aos Climate Intercessors [Intercessores pelo Clima]). Em seguida, tome medidas para reduzir a sua própria pegada de carbono e sugira que a sua igreja também tome medidas neste sentido. E considere envolver-se com organizações como a CCOP, a Evangelical Environmental Network [Rede Evangélica Ambiental, cuja sigla em inglês é EEN], a BioLogos (para a qual trabalho) e A Rocha, todas elas organizações que levam a sério tanto a fé cristã quanto a ciência climática.

O que fazemos aqui e agora tem importância para a eternidade, e não apenas para as nossas almas. Corpos são importantes, a Terra é importante, a água é importante. Bhagwan sugeriu que poderíamos aprender algo sobre isto com a cultura dos nativos das ilhas do Pacífico, a qual reconhece que os seres humanos “são parte da criação” e dependem da Terra e do mar para prosperar.

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Nós, cristãos — entre todas as pessoas — deveríamos compreender este aspecto da nossa dependência de Deus. Deveríamos ter um interesse ativo na prosperidade presente e no futuro eterno do planeta e de seus habitantes. Na igreja dos Estados Unidos [bem como na igreja de outros países], temos sido apáticos em relação ao mundo de Deus; é hora de nos preocuparmos com isso.

Jim Stump é vice-presidente de programas na BioLogos, apresentador do podcast Language of God e autor do recente lançamento The Sacred Chain: How Understanding Evolution Leads to Deeper Faith (HarperOne, primavera de 2024).

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