Neste verão, apareceu nos gramados por toda a cidade uma enxurrada de placas que testemunhavam o que havia acontecido em nossa região, no ano anterior. Vários suicídios de adolescentes abalaram nossa pacata comunidade do Vale Willamette, no Oregon, e as pessoas ficaram compreensivelmente consternadas.

Fizemos os tipos de perguntas que as comunidades devem enfrentar, quando ficam chocadas e abaladas por tragédias semelhantes: Por quê? Por que os adolescentes estavam tirando sua vida? Quem era o culpado por seu desespero? O que poderia ser feito para conter a maré de perdas?

As placas brancas e pretas, não maiores do que aquelas que proliferam durante a temporada de eleições, foram a resposta de uma mãe a essas perguntas. Em uma manhã de um fim de semana, Amy Wolff colocou 20 placas pela cidade, cada uma com um slogan singular: “Você é importante”. “Não desista.” “Seus erros não te definem.” “Você é digno de amor.” Em apenas algumas semanas, a campanha de Wolff se espalhou para outras comunidades do Oregon e de estados vizinhos.

Evidências de relatos sugerem que jovens, incluindo alunos das escolas de Newberg, encontraram esperança nessas mensagens; Wolff conta ter ouvido pessoas que foram encorajadas a não desistir de viver, apesar de seu desespero.

No entanto, para nossa comunidade — e para muitos outras em que uma morte autoimposta é inaceitável — uma pequena campanha de positividade, ainda que significativa, não pode ser o fim dos esforços para combater o suicídio de adolescentes. Embora afirmar que “Você é importante” seja um passo significativo para ajudar aqueles que lutam com o diagnóstico de doenças mentais, as comunidades precisam tomar outras ações relevantes para alcançar aqueles que lutam a cada momento com o desespero e a ideação suicida, especialmente em idade tão jovem.

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, a taxa de suicídio de garotas de 15 a 19 anos dobrou entre 2007 e 2015, e houve um aumento menor, embora significativo, nas taxas de suicídio de garotos. Um artigo da Time, no final de 2016, apontou que, embora tenha havido um aumento substancial de adolescentes com depressão, o país não viu um crescimento correspondente nos recursos para alternativas de saúde mental.

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Segundo um estudo de 2014, mais de três milhões de adolescentes nos Estados Unidos tiveram um episódio depressivo grave no ano anterior e, ainda assim, a maioria das escolas e comunidades continuam despreparadas para enfrentar esses desafios. Dadas essas estatísticas surpreendentes, os jovens de nosso país enfrentam uma grande crise de saúde mental: uma crise que a igreja e sua missão a favor da vida precisam enfrentar com urgência e compaixão.

Agora, como nunca antes, os cristãos estão reconhecendo a necessidade de alcançar pessoas com diagnóstico de saúde mental. Escritores como Sarah Lund e Amy Simpson mencionam o estigma que muitas vezes acompanha a doença mental e desafiam os leitores a vê-la pelo que ela é: um problema de saúde causado por mudanças fisiológicas no cérebro e que pode trazer grande sofrimento, especialmente se não for tratado.

No entanto, para muitos, o estigma da doença mental permanece, e aqueles na igreja que recebem esse diagnóstico muitas vezes sofrem em silêncio. Tendo ouvido que a alegria do Senhor é a sua força ou que eles precisam apenas orar mais para serem curados, ou ainda que a felicidade acompanhará os que creem, muitos que sofrem de doenças mentais mantêm seus diagnósticos em envergonhado segredo.

Um desses que sofreram em silêncio foi Madison Holleran, uma atleta da Ivy League que, com alguns meses em seu primeiro ano de faculdade, tirou a própria vida em 2014. Sua história é contada no excelente livro de Kate Fagan, What Made Maddy Run: The Secret Struggles and Tragic Death of an All-American Teen. Na obra, Fagan — uma colunista da ESPN — narra os últimos meses da vida de Madison Holleran, usando entrevistas com familiares e amigos, junto com seus textos, e-mails e contas de mídia social, para reunir as possíveis forças que levaram Holleran a tomar sua decisão final.

Pelo que parecia, a vida de Holleran era perfeita, e as plataformas de mídia social da jovem de 18 anos mostravam uma identidade sempre feliz e sempre positiva. Mesmo durante sua longa batalha de meses contra uma doença mental que se agravava, Holleran tentou demonstrar ser uma persona diferente, tornando sua morte ainda mais chocante para muitos que a conheciam bem.

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Enquanto Fagan se abstém de identificar qualquer razão singular pela qual Holleran tenha tirado sua própria vida, sua obra sugere que o estresse de ser uma atleta universitária teve uma participação nisso. A experiência de Holleran como corredora de cross-country da Penn State reflete a intensa pressão exercida sobre os jovens atletas.

O que é mais significativo é o fato de a maioria das pessoas com doenças mentais apresentar o início de seu transtorno no final da adolescência ou no início da idade adulta; para muitos, a transição para a faculdade agrava os sintomas, ao mesmo tempo em que isola a pessoa que sofre desse transtorno, que muitas vezes fica longe do apoio da família e de amigos próximos. A conectividade propiciada pela internet faz pouco para mitigar esse isolamento; no caso de Holleran, compelida a apresentar as melhores imagens possíveis de sua vida na Penn, as redes sociais intensificaram sua solidão, em vez de aliviá-la.

Parte dos relatórios de Fagan incluía a análise dos textos de Holleran e seu histórico de navegação. Embora não haja nenhuma indicação de que ela tenha sofrido bullying online, este é outro medo dos pais que acompanham o acesso à Internet e sua relação com o suicídio, provavelmente por um bom motivo. Em um recente processo judicial, Michelle Carter foi considerada culpada de homicídio involuntário por convencer seu namorado a tirar a própria vida; o documentário Audrie and Daisy (Netflix) fornece evidências assustadoras de que o bullying online pode ter consequências devastadoras, especialmente para meninas adolescentes que foram abusadas sexualmente.

Infelizmente, uma simples campanha com placas dizendo que “Você é importante” provavelmente não teria sido suficiente para alcançar alguém que lutava tão intensamente com uma doença mental, como Holleran presumivelmente lutou. Ainda assim, a ideologia sobre a qual a campanha foi fundada deve estar no cerne do engajamento da igreja para com os jovens que lutam com o diagnóstico de doenças mentais: a ideia de que cada pessoa é importante, pois cada uma é portadora da imagem de nosso Criador.

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Muitas vezes, porém, nossas igrejas têm passado mensagens contraditórias, na melhor das hipóteses. Algumas congregações transmitem que nossos erros realmente nos definem e que os marginalizados não são realmente importantes o suficiente para instituirmos qualquer mudança real e duradoura na maneira como as igrejas atuam. O legalismo aparentemente rígido de alguns cristãos transmite a sensação de que precisamos ser perfeitos — quase que sem pecado — para fazer parte de uma comunidade cristã; não é surpreendente que uma simples pesquisa no Google sobre “ser perfeito como cristão” produza mais de cinco milhões de fontes. Embora reconheçamos nossa imperfeição como seguidores de Jesus, também ouvimos que aqueles com fé não lutarão — ou, com certeza, não mencionarão suas lutas em suas igrejas.

Quando li What Made Maddy Run, eu me perguntei como a vida de Holleran e a campanha “Você Importa” de Wolff poderiam inspirar as igrejas a pensarem de forma diferente sobre jovens de suas comunidades que sofrem de doenças mentais. O que significaria deixar que os jovens soubessem — realmente soubessem — que eles são importantes? O que significaria deixá-los saber que seus erros não os definem e que não devem desistir de viver, mesmo quando os desafios do diagnóstico de doenças mentais os deixarem atordoados?

Um dos mitos em torno do suicídio é que quanto mais é discutido, mais provável é que os jovens pensem em recorrer a ele. Pesquisas mostram que esse não é o caso e que falar sobre ideação suicida não aumenta o risco de suicídio. As igrejas precisam discutir o suicídio mais abertamente com seus jovens, e aqueles que têm lutado contra pensamentos de automutilação (e acredite, essas pessoas existem em todas as congregações) estão na posição perfeita para ajudar a impulsionar essas discussões.

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Em minha comunidade natal, Nate McIntyre, conselheiro de admissões da George Fox University, tem falado para grupos de ensino fundamental e médio sobre suas experiências com depressão, ansiedade e pensamentos sobre suicídio. As palestras de McIntyre têm sido uma forma de abordar o suicídio de adolescentes diretamente com eles, permitindo que vejam que pessoas reais passaram por isso e sobreviveram (e até prosperaram) apesar da doença mental.

As discussões que tiram o estigma do suicídio também exigem que mudemos a linguagem que usamos para falar sobre esse assunto. Podemos estar inclinados a dizer que o suicídio é um “ato egoísta” ou que os jovens “desistiram de viver”, mas é importante reformular nossa linguagem para reconhecer que, na maioria das vezes, o suicídio surge da doença de uma pessoa e como tentativa de acabar com um sofrimento profundo e persistente. Sabendo disso, dizer, por exemplo, que alguém “cometeu suicídio” é problemático, pois a conotação é que o suicídio é um crime a ser cometido, e não um trágico ato de desespero.

Identificar o desespero que pode acompanhar a doença mental pode ser um trabalho difícil, assim como caminhar ao lado de quem enfrenta os desafios de ser pai de um adolescente com doença mental. A tendência humana de evitar o desconforto às vezes significa que aqueles que estão lutando enfrentam um isolamento cada vez maior, quando o que mais precisam é de conexão com outras pessoas. No entanto, estar confortável é território dos privilegiados. Os seguidores de Jesus são chamados a se aproximar, e não a se afastar, daqueles que precisam de apoio, amor e reconhecimento da sua existência e dignidade, independentemente dos desafios que enfrentam.

Finalmente, aqueles que trabalham com jovens nas igrejas precisam fazer da prevenção do suicídio uma prioridade, por meio de discussões e fóruns, mas também informando os adolescentes sobre os recursos disponíveis para eles em suas comunidades locais. Esse esforço precisa ser abrangente e não deve ter como alvo apenas aqueles que supomos estar deprimidos. A obra What Made Maddy Run fornece o lembrete importante de que, às vezes, não conseguimos identificar com facilidade aqueles que estão lutando, e é crucial treinar todos os adolescentes para reconhecerem os sinais de alerta que podem levar ao suicídio.

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Quando não existirem recursos, é imperativo que as próprias igrejas preencham a lacuna, fornecendo uma rede de apoio para as pessoas em sua comunidade que estejam passando por dificuldades. E as igrejas precisam permanecer conectadas aos jovens adultos em suas congregações, uma vez que eles se formem no ensino médio e sigam em frente. Como Fagan observa em What Made Maddy Run, este é um momento crucial para os jovens, e conexões autênticas com outras pessoas, em casa ou em qualquer outro lugar, são vitais.

Meus filhos e eu conversamos sobre as mortes de adolescentes que ocorreram em nossa cidade natal; eles estão começando a entender a gravidade da doença mental e também como chegar nos colegas que estão passando por dificuldades. Sou grata pela campanha “Você Importa” promovida por Wolff, pois gerou consciência em minha cidade natal, e tenho mais confiança de que, se meus filhos precisarem de ajuda, eles encontrarão muitos recursos e uma comunidade amorosa para apoiá-los. Também sou grata pelo fato de que outras igrejas locais estejam mudando o discurso sobre o suicídio. A Igreja Red Hills, de Newberg, até mesmo fez um componente central de sua declaração de missão dizer que “não há problema no fato de a pessoa não estar bem”, e está fazendo um trabalho intencional e necessário para alcançar aqueles que estão sofrendo.

Nestes tempos em que adolescentes desesperados são bombardeados com um milhão de imagens dizendo que todo mundo está bem, esse é o tipo de mensagem que eles precisam ouvir. O livro What Made Maddy Run, de Fagan, deixa esse ponto claro. E assim, como o livro de Fagan também informou minha compreensão da doença mental, pretendo fazer desta obra uma parte regular do seminário que ensino. Assim como outros adolescentes, quero que os alunos, a começar pelos da George Fox University, reconheçam que eles são importantes. Essa é a mensagem que eles precisam ouvir, não uma ou duas vezes, mas continuamente.

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Melanie Springer Mock é professora de inglês na George Fox University e autora ou editora de cinco livros, incluindo Worthy: Finding Yourself in a World Expecting Someone Else (publicado pela Herald Press em abril de 2018). Seus ensaios e resenhas foram publicados em The Nation, The Chronicle of Higher Education, Adoptive Families e Mennonite World Review, entre outros. Ela, o marido e os filhos moram em Dundee, Oregon.

Traduzido por: Mariana Albuquerque

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